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HIV: Descoberta de 'esconderijo' no corpo impulsiona novas terapias

Publicada em: 25-10-2025 Autor: Yuri Kiluanji

Desvendando os Segredos do HIV: Onde o Vírus se Esconde e os Novos Caminhos para a Cura

Cientistas da Universidade Western e da Universidade de Calgary, no Canadá, realizaram um estudo crucial que lança luz sobre a persistência do HIV no organismo. A pesquisa, publicada na revista Communications Medicine, revela os intrincados locais onde o vírus se esconde, dificultando sua erradicação completa, mesmo com os tratamentos antivirais atuais.

O Refúgio do HIV: Onde o Vírus Se Esconde

Os pesquisadores descobriram que o HIV se camufla no DNA de células infectadas em diversos tecidos, incluindo cérebro, sangue e partes do trato digestivo. O vírus utiliza padrões específicos de cada tecido para se esconder, integrando-se em regiões menos ativas do código genético, especialmente no cérebro. Essa estratégia permite que o HIV persista no corpo por décadas, atuando como um reservatório da infecção.

“Descobrimos que o HIV não se integra de forma aleatória. Em vez disso, ele segue padrões únicos em diferentes tecidos, possivelmente moldados pelo ambiente local e pelas respostas imunológicas”, explica Stephen Barr, professor de Microbiologia e Imunologia na Western.

A Persistência Viral: O Desafio da Cura

Atualmente, os tratamentos antirretrovirais são altamente eficazes em controlar a carga viral do HIV, tornando-a indetectável e intransmissível. No entanto, o vírus persiste devido à chamada persistência viral. Enquanto os medicamentos atuam nas partículas ativas, uma parte do HIV entra em estado de latência, ficando “adormecido” e escondido do tratamento. Quando os medicamentos são interrompidos, o vírus volta a se replicar, reiniciando o ciclo da doença.

“Saber onde o vírus se esconde em nossos genomas ajudará a identificar maneiras de atingir essas células e tecidos com abordagens terapêuticas direcionadas — seja eliminando essas células ou ‘silenciando’ o vírus de vez”, afirma Guido van Marle, professor da UCalgary.

A Importância das Amostras Históricas

O estudo utilizou amostras de tecidos de pessoas que viviam com HIV nos primeiros anos da disseminação do vírus, por volta de 1993, antes dos tratamentos antirretrovirais modernos. A análise dessas amostras permitiu aos cientistas observar o comportamento “natural” do vírus no corpo, sem a influência dos medicamentos.

“A disposição delas em doar amostras, em um momento de estigma, medo e com opções limitadas de tratamento, foi um ato de coragem, visão e generosidade que continua a ampliar a compreensão científica sobre o HIV e a salvar vidas hoje”, destaca van Marle.

Novas Fronteiras na Pesquisa: O Papel da Proteína SLFN12

Em 2023, um estudo publicado na Communications Biology revelou que uma proteína chamada Schlafen 12 (SLFN12) impede a reversão do HIV do estado de latência para o de atividade. Bloquear as funções do SLFN12 pode aumentar a expressão da proteína viral, permitindo que o sistema imunológico e os medicamentos antivirais eliminem os reservatórios virais, abrindo caminho para uma possível cura definitiva.

“Bloquear as funções do SLFN12 deve aumentar a expressão da proteína viral e, assim, permitir que o sistema imunológico do hospedeiro, e os medicamentos antivirais, eliminem melhor os reservatórios virais. Você recupera seu alvo. Então, você pode atacar e, com sorte, eliminar definitivamente as células infectadas latentes”, disse Andreas Meyerhans, autor do estudo.

Conclusão

As pesquisas recentes representam um avanço significativo na compreensão da complexa interação entre o HIV e o organismo humano. Ao identificar os locais de refúgio do vírus e os mecanismos de persistência, os cientistas abrem novas perspectivas para o desenvolvimento de terapias mais eficazes e, quem sabe, a erradicação completa do HIV no futuro.