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França em Crise: Primeiro-Ministro Lecornu Renuncia e Agrava Instabilidade Política

Publicada em: 06-10-2025 Autor: Yuri Kiluanji

Crise Política na França: Renúncia do Primeiro-Ministro e Impactos no Mercado

A França enfrenta uma profunda crise política com a renúncia do primeiro-ministro Sébastien Lecornu, anunciada na última segunda-feira (6). A decisão, tomada um dia após o presidente Emmanuel Macron divulgar seu novo gabinete, desencadeou uma onda de vendas de ativos franceses e intensificou a instabilidade no país.

Contexto da Crise

Lecornu deixou o cargo em menos de 24 horas após a apresentação da equipe ministerial, que manteve a maioria dos ministros dos gabinetes anteriores. Essa escolha gerou descontentamento entre os partidos de oposição, que esperavam por mudanças significativas. Bruno Retailleau, líder dos republicanos de centro-direita e ministro do Interior reconduzido, criticou a composição do governo, afirmando que este não conseguiu "romper com o passado".

Reações do Mercado Financeiro

A instabilidade política teve um impacto direto no mercado financeiro. Os títulos públicos franceses sofreram recuo, com o rendimento dos papéis de 10 anos subindo nove pontos-base, atingindo 3,6%. O prêmio de risco da dívida francesa em relação aos títulos alemães atingiu mais de 89 pontos-base, o maior nível desde o final de 2024, demonstrando a crescente preocupação dos investidores.

Análise Política e Próximos Passos

Olivier Faure, líder do Partido Socialista, descreveu o grupo de Macron como "implodindo", afirmando que o novo governo "não tem mais legitimidade". A situação atual coloca Macron em uma encruzilhada, com três opções principais: nomear um novo primeiro-ministro, convocar eleições parlamentares ou renunciar (hipótese já descartada). O prazo para o envio do orçamento regular é 13 de outubro, o que aumenta a probabilidade de medidas emergenciais.

O ex-premiê Lecornu enfrentava o mesmo impasse de seus antecessores: a tentativa de aprovar um orçamento em um Parlamento fragmentado, com a necessidade de cortes de gastos e aumento de impostos para conter o déficit. A renúncia de Lecornu compromete a tramitação do orçamento e coloca em risco a meta de redução do déficit, que poderia atingir 6% do PIB, caso medidas emergenciais sejam necessárias.

Desgaste Político e Mudanças no Gabinete

As poucas mudanças no gabinete contribuíram para o desgaste político. Bruno Le Maire, figura próxima a Macron, retornou ao governo como ministro da Defesa, enquanto Roland Lescure assumiu o Ministério das Finanças. Le Maire, conhecido por sua agenda pró-mercado, mantém relações tensas com o partido de Retailleau. Lescure, aliado de Macron, tem criticado os republicanos, especialmente em relação à imigração.

Declarações e Perspectivas

Jordan Bardella, presidente do partido Reunião Nacional, enfatizou que "não haverá estabilidade restaurada sem o retorno às urnas e a dissolução da Assembleia Nacional". Vincent Juvyns, estrategista-chefe de investimentos do ING, previu que a situação atual pode levar a novas eleições e a um aumento do spread, que poderia testar os 100 pontos-base.

A renúncia de Lecornu representa um colapso político da coalizão centrista de Macron, deixando o presidente sem um caminho claro a seguir e com desafios significativos para aprovar o orçamento e estabilizar a situação política do país.

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