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China Lança Sistema de Pagamentos Global: Desafio ao Dólar e Impacto no Brasil
China Expande CIPS: Uma Alternativa ao SWIFT com Foco no Brasil
A China está impulsionando o CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), uma rede de pagamentos que visa reduzir a dependência do sistema SWIFT e ampliar as liquidações em yuan (RMB) no comércio internacional. O Brasil, como principal parceiro comercial da China na América Latina, surge como um ator estratégico nesse cenário.
O que é o CIPS e sua importância para o Brasil?
Criado em 2015, o CIPS já conecta mais de 170 instituições financeiras diretamente e quase 1.500 indiretamente, em 119 países. Em 2024, processou impressionantes US$ 24,5 trilhões em operações.
Diferente do SWIFT, que atua apenas como sistema de mensagens, o CIPS combina mensagens e liquidação, permitindo transações diretas em yuan, sem a necessidade de conversão para dólar. Isso pode trazer benefícios significativos para o Brasil:
- Redução de Custos: Exportadores brasileiros de soja, minério e petróleo podem receber pagamentos diretamente em RMB, diminuindo as taxas de câmbio.
- Mitigação de Riscos: Diminuição da exposição a sanções financeiras.
Para a China, a integração do Brasil ao CIPS é estratégica, consolidando um aliado na América Latina e impulsionando a internacionalização do yuan.
Geopolítica e os Riscos para os EUA
O avanço do CIPS tem um forte componente político. A utilização do dólar como ferramenta de sanções por parte dos EUA tem incentivado a busca por alternativas. A China, inclusive, está testando interconexões entre o CIPS e o SPFS, sistema russo, fortalecendo uma rede paralela.
A preocupação dos EUA reside na capacidade de países como Brasil, China e Rússia de realizar transações fora do ecossistema do dólar. A ameaça de tarifas de até 100% por parte de Donald Trump para países que apoiam alternativas ao dólar pode, paradoxalmente, acelerar a adesão ao CIPS, especialmente entre economias emergentes que buscam proteger suas exportações.
Impactos para Bancos e Empresas Brasileiras
A implementação do CIPS pode trazer mudanças significativas:
- Empresas: Redução de custos e prazos, com pagamentos diretos em RMB.
- Bancos: Oportunidade de captar fluxos financeiros globais em yuan.
Já existem negociações para ampliar linhas de swap entre Brasil e China e instalar bancos de compensação em RMB no Brasil, visando aumentar a liquidez da moeda chinesa no mercado local.
Desafios e Próximos Passos
Apesar do crescimento, o CIPS ainda enfrenta desafios, como a exposição de alguns participantes ao sistema americano, o que pode limitar a autonomia em cenários de sanções. No Brasil, a adesão depende de ajustes regulatórios, interesse dos bancos privados e aceitação das empresas.
Nos próximos dois anos, será crucial acompanhar:
- Aumento do comércio Brasil-China liquidado em RMB.
- Instalação de bancos de compensação de yuan no Brasil.
- Integração do CIPS com plataformas digitais.
A estratégia da China não é substituir o dólar de imediato, mas criar alternativas e ampliar sua influência financeira. O Brasil, ao participar desse movimento, pode se tornar um importante ator em uma nova arquitetura financeira global, com menor centralidade dos EUA.