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China Transforma Deserto em Usina Solar Gigante: Área Maior que Paris

Publicada em: 26-09-2025 Autor: Yuri Kiluanji

O Deserto de Kubuqi e a Transição Energética Chinesa: Um Contraste de Contrastes

No coração do deserto de Kubuqi, na Mongólia Interior, a paisagem está sendo transformada. Gigantescos campos solares se estendem sobre as dunas, redefinindo o horizonte e lançando luz sobre as complexidades da transição energética chinesa.

Um Mar de Painéis Azuis

Um verdadeiro oceano de painéis solares cobre extensas áreas, moldando-se às curvas da areia e alterando para sempre a paisagem. Chang Yongfei, ex-trabalhador do setor de carvão, testemunha essa transformação: "Antes não havia nada aqui, era só areia."

Metas Climáticas e Expansão Acelerada

A construção desses campos solares faz parte da estratégia da China para reduzir emissões de carbono. O presidente Xi Jinping prometeu, em discurso na ONU, cortar significativamente as emissões globais até 2035. A expansão da energia solar é impressionante, com planos para triplicar a capacidade elétrica em desertos entre 2022 e 2030. Em Kubuqi, uma área equivalente a Paris ou Lisboa já foi coberta por placas fotovoltaicas.

Desafios da Operação no Deserto

Apesar da magnitude, a operação nos desertos apresenta desafios técnicos. Tempestades de areia podem danificar as estruturas, e as altas temperaturas diminuem a eficiência. A poeira acumulada nos painéis exige limpeza constante. Para mitigar esses problemas, os campos solares de Kubuqi utilizam tecnologias inovadoras, como ventiladores de autolimpeza e painéis bifaciais.

Distância e o Risco de Congestionamento Energético

A distância dos centros urbanos consumidores é um ponto crítico. A energia gerada precisa ser transmitida por longas distâncias, o que pode gerar o risco de "engarrafamento energético". Algumas províncias já estão limitando a aprovação de novos projetos para evitar sobrecarga na rede.

Turismo em Ascensão

Os campos solares também impulsionaram o turismo. Passeios de camelo, trilhas de quadriciclo e vídeos nas redes sociais transformaram a região em um polo turístico. Chang Yongfei, agora guia turístico, investiu em chalés com vista para as dunas e reconhece os ganhos trazidos pela mudança, mas teme que a expansão dos painéis possa reduzir a atratividade do deserto.

O Carvão Ainda Resiste

Apesar do investimento em energia limpa, o carvão ainda desempenha um papel importante. Dados mostram que a China inaugurou novas capacidades de produção de energia a carvão em 2025, em níveis inéditos desde 2016. Nos arredores de Kubuqi, o contraste é evidente, com trens carregados de carvão e chaminés fumegantes ainda presentes na paisagem.

Questões Ambientais em Debate

Pesquisadores discutem os efeitos climáticos das megaestruturas solares. A cobertura de grandes áreas com painéis escuros pode alterar fluxos atmosféricos e reduzir as chuvas em regiões vizinhas. A solução proposta é investir em projetos mais localizados e planejados, mas os riscos da energia solar ainda são menores do que os impactos das emissões poluentes.

Um Futuro em Transição

A coexistência de minas de carvão e campos solares resume o momento chinês. O país aposta em energias renováveis em larga escala, mas mantém a dependência de combustíveis fósseis. A transição energética está em andamento, mas repleta de contradições. O deserto de Kubuqi se tornou um símbolo das escolhas e dilemas que moldarão o futuro global.

Com informações de Folha de São Paulo.