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Tarifaço de Trump: Indústria bilionária no Brasil demite 4 mil e preocupa mercado
Exportação de Celulose Salva o Fôlego do Brasil em Meio às Tarifas de Trump
A indústria brasileira de árvores, um setor vital que gera anualmente cerca de R$ 200 bilhões e emprega quase 3 milhões de pessoas, enfrenta um dos maiores desafios da última década. O impacto das tarifas impostas pelo governo Trump nos Estados Unidos tem reconfigurado o cenário comercial, com efeitos distintos sobre os diversos segmentos do setor.
Impacto das Tarifas de Trump na Indústria Madeireira e de Móveis
Desde 2024, as tarifas impostas por Donald Trump têm pressionado significativamente a competitividade do setor, afetando especialmente exportadores de madeira e móveis. A justificativa por trás dessas medidas foi clara: fortalecer a indústria nacional americana e proteger a segurança econômica do país.
As consequências para o Brasil foram diretas, com impactos nas exportações e no emprego de milhares de trabalhadores. O governo norte-americano impôs sobretaxas sobre diversos produtos brasileiros, o que elevou os custos para as empresas e reduziu a atratividade dos produtos brasileiros no mercado americano.
A madeira processada, por exemplo, responde por 1,2% das exportações brasileiras aos EUA (US$ 34,2 milhões em 2024) e já sente os efeitos das sobretaxas. Empresas chegaram a decretar férias coletivas antes mesmo da entrada em vigor das tarifas. No Paraná, a madeira representa 40% das exportações do estado para os Estados Unidos, e a medida já causou demissões em massa.
Segundo levantamento da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), 10 mil trabalhadores foram impactados. Desses, 4 mil já perderam o emprego, 5,5 mil estão em férias coletivas e outros 1,1 mil tiveram seus contratos suspensos temporariamente (layoff).
A situação se agravou com a imposição de novas tarifas: 10% sobre madeira e 25% sobre armários e móveis. O Rio Grande do Sul, principal exportador de móveis para os EUA, foi duramente atingido.
Celulose: Um Respiro em Meio à Tempestade
Em meio a este cenário desafiador, a celulose tem sido um ponto de respiro para o Brasil. Atualmente, cerca de 3,5% das exportações brasileiras para os EUA correspondem à celulose, o equivalente a US$ 94 milhões em 2024, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
Graças à isenção da sobretaxa de 40% e à reversão de uma alíquota de 10%, anunciada em abril, 90% da celulose exportada pelo Brasil ficou livre das tarifas de Trump. O alívio foi comemorado pelo setor.
“Temos clientes muito relevantes nos Estados Unidos. De certa forma, uma parte importante do setor respira”, afirmou Paulo Hartung, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
Desafios e Estratégias para o Futuro
Diante deste cenário complexo, especialistas e entidades do setor defendem a necessidade de persistência nas negociações e a busca por alternativas para superar as barreiras comerciais.
Paulo Hartung enfatiza a importância da persistência nas negociações: “Quando você vai a uma porta, bate e ela continua fechada, ao invés de voltar, você precisa bater de novo. Uma hora ela abre e você consegue entrar no ambiente, sentar numa mesa e poder dialogar.”
Ana Cristina Schneider, consultora de mercado e estratégia da Movergs, acredita que a saída está na diversificação e inovação: “Conquistar novos parceiros não é uma tarefa fácil, até mesmo porque cada país tem suas particularidades em relação a consumo, burocracia, logística e acordos comerciais”. Ela sugere que empresas brasileiras considerem estratégias como rever o mix de produtos, investir em marketing, participar de feiras internacionais e contratar consultorias especializadas para reduzir a dependência do mercado norte-americano.
O futuro da indústria brasileira de árvores dependerá da capacidade de adaptação, inovação e da busca por novos mercados, enquanto o setor continua a lutar contra as barreiras impostas pelo cenário comercial global.